Extinção de sacolas plásticas deixará 30 mil sem emprego

Matéria publicada em 27/5/2011

Por Nanci Dainezi

Desde a assinatura do protocolo de intenção, que defende a extinção das sacolas plásticas nos supermercados até o final do ano, empresários do setor têm se mobilizado para reacender o debate sobre o impacto do plástico no meio ambiente. O protocolo foi assinado no dia 9 de maio pelo governador Geraldo Alckmin, o presidente da APAS (Associação Paulista de Supermercados), João Galassi, e o secretário do Meio Ambiente, Bruno Covas, e prevê o fim das entregas de sacolas derivadas de petróleo ao consumidor até dezembro em todo o estado de São Paulo.

Um dos questionamentos que se levanta é se a medida será benéfica para o meio ambiente, uma vez que a utilização do material continuará existindo para todos os outros produtos manufaturados pela indústria: frascos de cosméticos, medicamentos, embalagens diversas, garrafas de refrigerantes, além de uma infinidade de outros itens. De forma geral, a maioria dos produtores de sacolinhas plásticas compra parte de sua matéria-prima, que são aparas de plástico, de cooperativas de catadores, do refugo dos supermercados, do comércio e da indústria, impedindo que o material já utilizado seja descartado em aterros sanitários ou em locais impróprios.

Para os empresários do setor, a extinção do produto não só não aliviará a poluição, como também aumentará a quantidade de resíduos jogados na natureza, além de provocar o desemprego de milhares de trabalhadores.

De acordo com dados da Abief (Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis), só a cidade de Barueri concentra cerca de 23 produtores de sacolinhas, que ao todo geram cerca de 900 empregos diretos, além de quase 3 mil indiretos em cooperativas, transportadoras e indústrias, por exemplo.
A extinção das sacolinhas provocará uma avalanche de demissões e de fechamentos de empresas.

Um dos empresários afetados pelo acordo é Matusalem Lucarini, proprietário da Dayana Plast, de Barueri. Ele diz que dois de seus fornecedores são cooperativas de reciclagem da região: a Avemare e a Coperyara. “Minha empresa retira da natureza 250 toneladas de aparas plásticas mensalmente, que compro dessas cooperativas e transformo em sacolas plásticas. A minha pergunta é: aonde essas aparas irão parar depois? Nos aterros sanitários, nos rios?”, questiona.

A Dayana Plast tem 20 anos de existência e é considerada uma pequena indústria do setor. Emprega atualmente 45 pessoas e produz 200 toneladas de sacolinhas por mês. “Eu só produzo sacolinhas para supermercados. Com essa restrição ao uso no estado, terei de demitir todos os funcionários e fechar as portas. Eu não tenho alternativa”, afirma.

O empresário diz ainda que esse acordo também não beneficia o consumidor, uma vez que ele terá de pagar pelo produto se quiser utilizá-lo e terá como opções apenas as caixas de papelões ou sacolas retornáveis. “A produção da caixa de papelão é mais impactante para o meio ambiente e sua manipulação em todos os processos faz dela um fácil contaminador e disseminação de doenças para as donas de casa.”

Comerciantes e donas de casas também terão a opção de utilizar as sacolas biodegradáveis, feitas de milho, mas elas são quatro a seis vezes mais caras do que as de plástico. Além disso, só uma empresa no país produz o material.
Vanderlei Porsani, proprietário da Porsani Embalagens, acrescenta que o comerciante que hoje compra sacolas plásticas a R$ 0,03 de produtores locais, pagará bem mais. “Se um cliente compra 500 mil sacolas por mês e gasta atualmente R$ 15 mil, terá no futuro que desembolsar R$ 95 mil para comprar a mesma quantidade das biodegradáveis.”

Porsani também se sente prejudicado. “Acredito que o governo deveria incentivar a reciclagem e o hábito de descartar os materiais nos locais corretos, e não sacrificar um setor que gera empregos, paga impostos sem incentivo e recicla materiais. Me sinto um bandido por produzir sacolas plásticas agora”, diz.

Com a assinatura do acordo, a Abief estima que 30 mil pessoas estejam desempregadas até o final do ano. E e a onda de demissões já começou. O comércio de embalagens, que trabalha com estoques, já suspendeu suas compras, afetando vários produtores. Empresários que investiram em maquinário e reforma por conta do incentivo do governo federal esperam uma solução mais abrangente para o problema, algo que não prejudique ninguém e que ainda faça bem ao meio ambiente.

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